Há 20 anos Itamar quase cai da presidência por causa de uma calcinha

Uma genitália desnuda abalava a democracia brasileira. Em todos os jornais e revistas, a modelo e atriz Lilian Ramos apareceu sem calcinha ao lado do então presidente da República Itamar Franco em um camarote da Marquês do Sapucaí durante o Carnaval de 1994. Não faltaram editoriais na imprensa, discursos no Congresso e recursos jurídicos pedindo o afastamento do mandatário nacional.

À época, o país tinha fresco na memória o impeachment de Fernando Collor, cujo vice, Itamar, havia assumido a Presidência em seu lugar no final de 1992. O pouco apoio dos partidos e a atitude “saidinha” do presidente colaboravam com a oposição que queria tirá-lo do palácio do Planalto.

A turbulência política começou no dia 15 de fevereiro de 1994 e durou algumas semanas, mas foi esquecida quando, cinco meses depois, Itamar lançou o plano econômico que lançou a moeda que existe até hoje, o Real.

“Hoje dá vontade de rir dessa história. Foi uma forma ridícula de tentar atingir a moral do presidente. Pensei em processar todo mundo, mas preferi ir embora do Brasil”, relembra Lilian Ramos em entrevista ao UOL.

Ela está de férias, como faz todos os anos durante o inverno europeu. Lilian, 49, leva uma vida de socialite em Roma atualmente, desfilando pela chamada “dolce vita” da capital italiana.

Há 20 anos na Itália, ela participou de programas de auditório e de séries humorísticas na TV local, figurou em filmes e estampou capas de revistas de fofoca e celebridades. O casamento com um empresário da construção civil deu passaporte para as altas rodas da sociedade romana e suas festas de arromba. Lilian até gravou CDs cantando em italiano.

“A Itália me valorizou. Já no Brasil só falavam coisas ruins de mim. Falaram que eu era uma oportunista. Eu só perdi com esse episódio”, afirma Lilian.

Antes de ser alçada à fama nacional e internacional, Lilian já era conhecida como destaque no Carnaval carioca, desfilando pela escola de samba Grande Rio. Na virada dos anos 1980 para 1990, ela ilustrou em poses nuas várias revistas masculinas –muitas delas faziam referências explícitas à semelhança física com a cantora Fafá de Belém.

Além disso, ela atuou como coadjuvante em programas de TV (“Trapalhões”, “A Praça é Nossa” e “O Bronco”) e de filmes da Boca do Lixo paulistana (como “A Rota do Brilho”, cujos protagonistas eram Alexandre Frota e Gretchen).

Lilian lembra muito bem que quem a colocou no camarote presidencial foi o deputado federal Valdemar Costa Netto, hoje condenado e preso pelo caso do Mensalão. “O Valdemar disse que o presidente queria me conhecer, que tinha me achado bonitinha. Achei que ia ficar uns 15 minutos por lá. Como o presidente foi muito gentil e cavalheiro, acabei ficando três horas por lá”, lembra.

Como chegou ao local logo após desfilar como destaque na Grande Rio, Lilian tirou sua fantasia de metal e cobriu o corpo com uma camiseta grande. O que ela e Itamar Franco não contavam é que os fotógrafos embaixo do camarote tivessem um ângulo inusitado para registrar o encontro do presidente com a então quase desconhecida.

Itamar, morto em 2011 quando era senador, teve o mandato presidencial marcado por aparições públicas em que flertou com mulheres, que podiam ser desde modelos em feiras industriais até políticas em recepções públicas. Divorciado à época, ele angariou fama de galanteador como mandatário.

Nos dias seguintes ao escândalo carnavalesco, Lilian teve que desmentir que era namorada de Itamar, apesar das fotos de abraços e cochichos no camarote. “Foi tamanho o burburinho que o Valdemar me ofereceu até uma candidatura a deputada federal pelo PL. Não aceitei. Me sentia usada e manipulada. Preferi sair do país. Guardo mágoa do episódio”, relata Lilian.

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