QUASE 200 ANOS DE VILA

Por Ramalho Leite

Neste 16 de outubro, Bananeiras completa 136 anos de elevação à categoria de cidade. Deve-se ao então presidente da província da Parayba, José Rodrigues Pereira Junior, a assinatura da lei que emancipou seu território. Sua identidade política, porém, vem de mais atrás. Data de 10 de outubro de 1833 a elevação do povoado em Vila, por força de lei sancionada pelo presidente Antonio Joaquim de Melo. A povoação, até então, era parte da Vila Real de Brejo de Areia e antes, pertencera à jurisdiçã o da Vila de São Miguel da Baía da Traição ou Vila de Mont Mor da Preguiça. A comarca de Bananeiras, foi instalada, porém, em 10 de outubro de 1857.

Com efeito, em mensagem enviado à Assembléia Provincial pelos idos de 1860 o então presidente da província, o gaucho Silva Nunes esclareceu que “divide-se a Província da Paraíba nas sete comarcas da Capital, Pilar, Bananeiras, Areia, São João,Pombal e Souza” e ressaltou: “em Bananeiras, existem como juízes letrados e efetivamente providos”. N a época do Império, o Estado e a Igreja se não eram um só corpo, eram um só espírito, e as ações de ambos se entrelaçavam. Daí por que, foi a Assembléia Provincial, em lei de 25 de abril de 1835, proposta pelo conselheiro padre Francisco de Holanda Chacon, que deu status de Freguesia à Capela de Nossa Senhora do Livramento, “outrora filial da Matriz de Brejo de Areia”.

A Paróquia, portanto, então denominada de Freguesia, completou 180 anos. Não se confunda, pois, com a idade da Igreja Matriz, apontada alhures como sendo inaugurada em 1861. A capela que deu origem à matriz é cercada de uma romântica lenda que envolve o livramento de um homem branco – Gregório da Costa Soares, aprisionado pelos índios e liberto por uma linda tapuia. A aflição do prisioneiro o fez rogar à interseção da Virgem do Livramento, prometendo que, caso escapasse com vida, mandaria erguer um templo no local do seu tormento. Foi o que fez: casou com a índia e doou a terra para a igreja. A segunda parte da historia se prova com d ocumento, a primeira ninguém sabe quem contou.

A matriz não pode ter sido inaugurada em 1861, pois, em 1873 há registro oficial de que a obra de construção da matriz, “progride sob a administração de uma comissão e as despesas correm por conta de loterias extraídas na Corte,” conforme revelou o presidente Francisco Teixeira de Sá. Um pouco antes, em 1860, o citado presidente Silva Nunes esteve em visita a Bananeiras e “foi visitar a igreja sob a invocação do Coração de Jesus que serve atualmente de matriz, cujo exterior não é mau, achando-se ainda por terminar o interior; há materia l disponível para a edificação da matriz que se projeta”. Acrescentou, ainda, que seu antecessor no governo foi autorizado pela Assembléia “a mandar orçar e construir a nova matriz da vila do Ingá e reedificar a de Bananeiras”, mas se desculpou perante os deputados provinciais: “sinto porém dizer-vos, o estado de penúria dos cofres tem sido tal, que não permitiu ainda o começo de qualquer dessas obras…”

A planta para a reforma da matriz do Livramento data de 1858 e foi iniciativa do presidente Beaurepaire Rohan. À falta de recursos públicos, durava uma eternidade a construção de um novo templo. A matriz de Bananeiras não fugiu à regra e, falhando a ajuda oficial teve que recorrer às “esmolas do fieis”. Os “barões do café” deram sua contribuição e, em recompensa, ocupavam espaços elevados nas laterais da igreja. Daqueles púlpitos assistiam às missas e novenas, costume derrubado, literalmente, pelo monsenhor Jos& eacute; Diniz, que destruiu as antipáticas tribunas.

Historiadores como Humberto Nóbrega, Maurílio Almeida, Celso Mariz, Wilson Seixas e o pesquisador Manoel Luiz da Silva, tiveram a preocupação de retratar a Bananeiras de antanho, cuja existência política está chegando aos 200 anos. A cidade agora é outra, e sedimenta um futuro que não envergonha um passado que “apaixona e empolga”, como disse Humberto Nóbrega. ( Nas transcrições respeitei a grafia da época)

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