Porque não gosto de festa de rico

Por Tião Lucena

Nesses quase quarenta anos como jornalista, só fui a festa de rico umas duas ou três vezes, e assim mesmo para cumprir obrigação.

Não gosto de festa de rico. É muito chique e cheia de frescuras.

A começar pelos trajes. Os ricos sempre ditam as roupas que a gente vai vestir nas suas festas. Tem o esporte fino, que eu nem sei o que diabo é (da última vez perguntei ao Padre Albeni, que é chique e fino), tem o traje passeio e tem aquele chiquitito, que obriga o sujeito a envergar um tal de smooking, um paletó feio cachorro da mulesta, de rabão comprido e que exige do usuário a utilização de uma gravata de lacinho toda afrescalhada.

E lá dentro é que a coisa piora. Primeiro, a comida é pouca, contada, pois rico tem estilo e quem tem estilo come pouco.

O convidado é recebido na porta por duas donzelas bem vestidas e pintadas, levado a uma mesa, senta em cadeiras forradas com toalhas brancas, fica lá vendo a fila de convidados, com o bucho roncando de fome, a língua seca de sede e nada de aparecer um garçom. Esse vem surgir já quando a barriga do convidado está dando sibnais de inanição e o desespero por uma lapadinha de qualquer coisa começa a bater. Primeiro vem um empertigado garçom vestido de pinguim oferecendo água. A segunda rodada é de refrigerante. Nesse meio tempo, a mocinha de saia rodada e coqui redondo deposita na mesa uma cestinha contendo três pastéis, uma empada e quatro rabos de tatu.

O uisque só aparece quando o galo canta. E olhe lá.

As mulheres dos convidados capricham na maquiagem e no penteado. E não podem ver um fotógrafo que trincam os dentes num sorriso fingido cachorro da mulesta. Mas a vale a pena, pois aquele retrato será reproduzido na coluna social.

Festa de pobre é diferente. Nunca acontece em casa de festa. É em casa mesmo. As portas são arreganhadas, o dono da casa recebe a visita com um grito “Emburaca, cumpade, que hoje o peido avôa”, e tome rabada, buchada, galinha de capoeira cheia de graxa e bode no molho com pimenta malagueta para tirar o gosto da cachaça papuda, aquela que não mata mas deixa o cabra com o bucho grande, as pernas finas e a cabeça redonda.

Retrato mesmo só da mesa cheia de tigelas repletas de mocotó, baião de dois, farofa de cuscuz, angu, jerimum, maxixada, quiabada, vinho de jurubeba indiano, “celveja skincariol”, ron montila, conhaque dreher, São João da Barra, o cachorro no chão lambendo os ossos e no quintal a batucada de Duri-Duri cantando samba para as mulheres, já triscadas, darem embigadas nos homens.

E com uma diferença: tudo é de graça, ninguém é obrigado a pagar pelo convite nem a dar presente caro.

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