MEMÓRIA DO FUTEBOL PARAIBANO – O craque deputado

Por João Trindade (especial para o Correio da Paraíba) – Quem o viu jogar garante que tinha um estilo elegante, mas bastante objetivo em busca do gol. Seus chutes, geralmente certeiros, infernizavam os adversários; seus dribles, idem. Raros são os centroavantes assim. Diz-se que, além da elegância no trato com a bola, executava “bicicletas” perfeitas. Seu nome: Zéu Palmeira: “presidente” eterno do Esporte de Patos, nas décadas de 50 e 60; “dono” do time e autor de uma proeza ímpar na história do futebol: conciliou o cargo de deputado com a posição já referida, no alvirrubro patoense. Sim, verdade! Atuava na Assembleia Legislativa da Paraíba e, concomitantemente, disputava partidas pelo seu time de coração, a quem dedicou uma vida. Atuou, ainda, no Treze e Náutico (PE). Isso sem contar que fez história, também, como empresário (profissão que ainda exerce; agora, como calçadista) do ramo de transportes no estado: era dono, juntamente com o sócio, Ivan, da Ipalma, a primeira empresa de transportes intermunicipal sediada em Patos e uma das principais da Paraíba, na década de 60. Os ônibus, geralmente da Mercedes, e com carroceria Ciferal, ostentavam o vermelho e branco: as cores do “patinho”, o “terror do Sertão”.

Na entrevista a seguir, uma bate papo com esse homem inteligente, simpático, tranquilo e que viveu à sombra e nos braços do povo; um político e desportista essencialmente popular. Ele nos recebeu pontualmente (como houvera marcado) às 10h da manhã de uma quinta-feira santa, na sua casa, no bairro Jardim Guanabara, acompanhado da esposa; de sua filha Zelma e dos sobrinhos Miguel (filho de Beca Palmeira, ex-goleiro do Esporte, que também fez história) e Marcone (ex-jogador do mesmo clube). De minha parte, estive acompanhado do radialista Luís Carlos, responsável pela materialização de um sonho que o repórter-autor acalentava, há anos. Aliás, os Palmeira são uma família de craques: Além do próprio Zéu, fizeram história no futebol paraibano: Beca; Tininho; Batuel; Marcone e o lendário goleiro Celimarcos, um dos maiores da Paraíba; comparáveis a ele, na época, só Fernando, do Botafogo (PB) e Val, do Santos (PB).

A entrevista:

R: O Sr. É de Patos, mesmo?

Z: Sim.

R: Pode dizer a idade?

Z: Nasci no dia 02 de janeiro de 1931.

R: O que o levou a ter tanto amor pelo futebol?

Z: O que me levou foi, propriamente, o povo. Comecei a jogar futebol no Colégio Diocesano; depois, no [José] Cavalcanti. Jogávamos pelada. O futebol de Patos foi crescendo e eu estava dentro do futebol e o futebol me levou para a política, porque com os dois eu poderia ajudar aos menos favorecidos. Foi o povão que me levou ao futebol e à política.

R: Na época, havia posições definidas. Qual era sua posição?

Z: Centroavante.

R: Pode citar alguns companheiros de equipe, da época?

Z: Beca; Valdenor; Zito Queirós; Sales; Zaqueu; Araújo; Paulino; Aderaldo…

R: O Sr. Era presidente do Esporte…

Z: Eu não era propriamente presidente O presidente era José Neves de Lucena. Houve outros: Souto Maior; Monsenhor Manuel Vieira; esses assumiram a diretoria do Esporte.

R: O fato inusitado é que o Sr. era, na época, concomitantemente, deputado estadual e jogador do Esporte. Como é que conciliava?

Z: Para tudo tem um tempo. Eu dividia bem: tirava um tempo para o futebol, para comercializar, para atuar na Assembleia e dividia diretinho…

R: Desculpe. Gostaria de insistir: como o Sr. Conciliava ser deputado e jogar no Esporte Clube de Patos? Dê mais detalhes.

Z: Naqueles dias que antecediam as partidas mais importantes eu vinha para treinar e sempre me preparava muito bem, fisicamente; nunca descuidei do meu preparo físico.

R: A que se deve esse amor dos Palmeira pelo futebol? Parece que quase todos foram jogadores de futebol…

Z: Vem de longe, desde meu pai, Miguel. A influência maior foi de Antônio Palmeira (irmão), que jogava futebol e chegou a ser presidente do Sport Recife, por duas vezes; meu pai; Manuel Palmeira; Tininho Palmeira; Beca Palmeira, um goleiro de mão cheia. Ele e Celimarco (sobrinho) fechavam. Todos os Palmeira gostavam de futebol. (o entrevistador faz comentário à parte: Todos não só gostavam como sabiam jogar!…). (risos)

R: Passando, agora, para a política:

O senhor foi deputado e candidato a prefeito de Patos. O que o levou a ser candidato a prefeito?

Z: Foi o povão!… Principalmente a torcida do Esporte de Patos.

R: Quem deu a ideia do “slogan”: “Pé de Poeira”?

Z: Foi meu adversário político. Quis me desprezar, me desqualificar, dizendo:

– Aquilo é um pé de poeira… É um Zé ninguém!

Aí o povo veio para cima de mim; me deu aquela força política.

R: O senhor não quis mais tentar a política?

Z: Não. Quando perdi o pleito para prefeito, decidi abandonar.

R: Como o senhor compararia a política daquela época e a de hoje?

Z: Antigamente, o povo tinha mais confiança nos políticos; não era essa coisa desagradável; tanto na política estadual como nacional.

R: Voltando ao Esporte…

O Senhor confirma, ou não, a versão de que o Esporte Clube de Patos é alvirrubro por causa do Náutico e tem o Nome Esporte, por causa do Sport Recife?

Confirmo. Eu joguei como centroavante do Náutico e Palmeira, meu irmão, queria que eu fosse jogar no Sport; mas eu não queria ficar em recife; queria voltar para Patos.
Foi uma história confusa: Palmeira foi sócio do Naútico e depois presidente do Sport. Resolvemos homenagear os dois: fui eu que escolhi o nome e as cores do Esporte Clube de Patos. Foi sim, uma junção.

R: Quantos anos tinha quando abandonou o futebol?

Z: Aos 35 anos, abandonei o futebol e a política.

R: O site oficial do Esporte Clube de Patos lançou, há pouco tempo, uma “pesquisa de opinião” na qual estranhamente dizia que o Esporte iria mudar o escudo e dava como “opção” ao torcedor “tirar o pato” ou “modificar o pato”. Não havia qualquer opção sobre não tirar o pato. O que o senhor acha disso?

Z; Nãaao. O pato não pode sair; é um símbolo; é a tradição do nascimento do Esporte.

Foto 1: Zéu palmeira, no Esporte de Patos (3º a esquerda, agachado)
Foto 2: Xéu, hoje, aos 82 anos

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