Do fundo do baú, por Sevy Falcão…

UMA FARSA DE DEMOCRACIA

Abrimos nosso arquivo para rever um belíssimo texto do imortal e brilhante Sevy Falcão (in memorian), sobre o tema ‘democracia’. Na época, Sevy destacou que não entendia por que no período que antecede a eleição, o suplicante está proibido de interagir com os portais sobre assuntos políticos.

Confira:

Uma grande contribuição ao leitor dos sites e blogs é a interatividade, coisa impossível no jornal impresso, que está com problemas financeiros em todos os quadrantes e seu tempo de vida contado. Entretanto, eu não sei por que no período que antecede a eleição, o suplicante está proibido de interagir com os portais sobre assuntos políticos. Na minha ótica nunca foi necessária à participação do leitor com mensagens ofensivas e palavras de baixo calão. O jornal, teoricamente, seria responsável pela seleção e regulação dos excessos nos comentários a serem inseridos e na prática, todos são divulgados com ofensas pessoais e até assuntos pornográficos. Nada proveitoso.

A interação feita na maioria dos casos é uma ofensa à inteligência do leitor e até uma agressão aos colunistas, aos jornalistas. Todavia, apesar da falta de cultura de um povo que não está informado para participar e nem tampouco para votar, não justifica a adoção de grilhões e mordaças por alguns órgãos que em pleno regime democrático podem tudo. Alguns setores da justiça eleitoral não são os donos dos jornais, das emissoras de rádio e nem das televisões, mas agem como se fossem. Sentimos que não é admitido por alguns segmentos do poder judiciário, o sistema de pretensa liberdade que vivemos hoje, sobretudo com a internet. O Brasil é o único país onde isto acontece. É um tremendo retrocesso democrático quando um país resolve suas questões ideológicas utilizando processos judiciais e repressões.

Eu não entendo essa tão propalada liberdade de imprensa, quando os setores mais conservadores e intolerantes estão com as rédeas na mão, determinando aquilo que pode ou não deve ser editado. Parece que depois da ditadura ficaram hibernando vinte anos, para transformar a liberdade de opinar em intransigência e discriminação. Hoje, os colunistas são apenas deformadores de opinião. Eles opinam somente sobre aquilo que é “legal” ou permitido.

No Brasil, assim como em qualquer país do mundo o contrabando é crime, entretanto, os artigos contrabandeados são vendidos em praça pública e nas barbas da polícia. As florestas brasileiras a cada dia são mais destruídas. As cidades estão sufocadas pelo trânsito e pela falta de urbanidade. O crime e a violência já se tornaram banalidade. Os milhões de brasileiros mendigam o atendimento de uma saúde de péssima qualidade. A educação é privilégio da elite e a escola pública apenas entreposto do tráfico de drogas. Para essas mazelas sociais não existe censura, não existe lei. Todavia, se o colunista falar sobre política, receber um comentário e joga-lo na página, a multa com certeza virá.

Que democracia mais interessante a nossa: para haver respeito e sanar as diferenças raciais, por exemplo, é instituído um Estatuto de Igualdade Racial, como se essa identidade pudesse ser definida por um instrumento jurídico. Esse tipo de dispositivo legal não fará com que o branco tenha mais respeito ao negro, porque respeito ao semelhante é uma questão de consciência e de cultura. Essa democracia é uma farsa e o povo não deveria participar em nenhum exercício da cidadania, porque não lhe é dado o direito de ser livre, de opinar, de escolher e de participar. Parece que existe algum valor acima do bem e do mal. Somente Tomás de Torquemada, o inquisidor geral dos reinos de Castella e Aragão, que viveu no Século XV, pode definir essa firula democrática.

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