A PALAVRA É “MANCHETÔMETRO”

Por Zizo Mamede

No turbilhão de notícias jogadas por todos os meios a cada instante, prender a atenção dos ouvintes, dos leitores e dos telespectadores torna-se um desafio monumental para os editores de notícias. Mais ou menos assim: a vida e antes de tudo cotidiano, mas para atrair a audiência é preciso trabalhar com o espetacular, fazendo do ordinário algo extraordinário.

Por trás das manchetes dos textos, dos áudios e das telas, os empresários e os profissionais da imprensa fazem escolhas, produzem notícias, dão vulto ou esquecimento, fabricam versões, de olho no mercado. Cada ponto na audiência pode significar lucro ou prejuízo. Para as empresas de comunicação a notícia em si não basta, tem que se traduzir em cifrões, afinal há investimentos, custeio e lucros em jogo.

Mas, quando está em jogo a disputa entre projetos mais gerais de sociedade, invariavelmente as grandes empresas de comunicação e suas respectivas redes de afiliadas articulam-se do mesmo lado. Por uma escolha de classe ou de preferência por um determinado modelo de sociedade, os proprietários das empresas de mídia e seus respectivos editores produzem notícias a partir de uma mesma opção política.

Neste ano eleitoral, um simples e despropositado acompanhamento das manchetes dos grandes jornais do país, no rádio, na TV e nos impressos diários ou semanais já dão a nítida impressão de que a grande mídia tem um lado, ou melhor, é do lado contrário ao da presidenta Dilma Rousseff. No geral, a grande imprensa brasileira faz oposição à candidatura de Dilma Rousseff à reeleição.

O Manchetômetro

Mas, aquela difusa impressão da partidarização da grande mídia contra a presidenta Dilma não é só impressão imprecisa, é fato. É isto o que revela um projeto de pesquisa de estudantes e professores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) que resolveram acompanhar a cobertura jornalística das eleições de 2014, a partir da análise dos principais veículos de imprensa do país.

Os pesquisadores da UERJ contabilizam as menções diárias nos jornalões Folha de São Paulo, Estadão e Globo e no Jornal Nacional da TV Globo acerca dos candidatos melhor colocados nas pesquisas de intenção de votos, analisam o teor das notícias e formulam gráficos. Desse trabalho de acompanhamento da cobertura da mídia sobre os candidatos melhor colocados nas pesquisas eleitorais surgiu a ideia de criar um site batizado de “manchetômetro”.

Conclusão: Dilma Rousseff é, disparada, a candidata que mais apanha da mídia brasileira. As notícias positivas sobre Dilma Rousseff são 7,5% para 92,5% de notícias negativas. Para Aécio Neves (PSDB), 50% das notícias são negativas e 50% são positivas. O “manchetômetro” revela que desde junho de 2013 a grande mídia enquadrou a economia e política com notícias extremamente negativas. Como se o pais estivesse mergulhado numa grave crise econômica e política.

Os dados do “manchetômetro” revelam, entretanto, que mesmo blocada contra a presidenta Dilma Roussef, a cobertura da mídia não é monolítica, afinal está em jogo também a credibilidade da imprensa, o que nas impressões mais singelas ou nas manifestações políticas já se encontra arranhada, questionada e cada vez mais desmascarada.

Em tempo: num outro extremo, uma mídia chapa-branca seria abominável. Mas, querer uma mídia democrática seria querer demais?

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