Os zelotes da indignação seletiva

Por Zizo Mamede

Você já ouviu falar da Operação Zelotes? E do Carf, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, você já ouviu ou sabe algo? Mas, da Operação Lava-Jato, que investiga a corrupção praticada na Petrobras, com certeza você escuta ou assiste reportagens todos os dias, muitas vezes, não é mesmo?

Se você ainda não viu em emissoras de rádio ou em canais de TV alguém se reportar à Operação Zelotes, desencadeada pela Polícia Federal desde março de 2015 contra atos de corrupção no Carf, pode estar acontecendo com você um caso de adestramento: ouvir da grande mídia só aquilo que à mídia interessa que você perceba.

Para ser justo, é importante assinalar que a grande mídia, principalmente a TV, já falou algumas vezes da Operação Zelotes, mas tão pouco e tão rápido, que facilmente passa despercebido ou você confunde e mistura esse assunto com o caso tratado pela Operação Lava Jato, infinitamente mais divulgada e explorada.

Se você ainda não tinha parado um pouco para se informar sobre a Operação Zelotes, a essa altura, talvez você já tenha alguma curiosidade acerca desse tema? Então já cabe dizer mais algumas coisas. Primeiro que a palavra “zelote” é comumente usada para designar pessoas que fingem ter zelos.

Mas, literalmente, zelote, da tradução grega para um termo hebraico, quer dizer “alguém que zela pelo nome de Deus.” Historicamente, “zelotes” ou “zelotas” eram os membros de uma seita de judeus fanáticos, fundada por Judas (o galileu), no primeiro século da era cristã, para mobilizar o povo da Judeia a rebelar-se contra o jugo romano.

O termo “zelotes” está sendo usado ironicamente pela Polícia Federal como uma metáfora para nomear a operação que detectou um rombo de aproximadamente 19 bilhões de reais de um esquema de corrupção no Carf – isto mesmo, um rombo bem maior do que o roubo levantado na Petrobras pela Operação Lava Jato.

O Carf, o Conselho de Administração de Recursos Fiscais, é um órgão da Receita Federal, como se fosse um tribunal, para julgar recursos administrativos de autuações da Fazenda Federal contra empresas ou pessoas acusadas de sonegação fiscal ou previdenciária. Quando contribuintes têm recursos negados em primeira instância pelas Delegacias da Receita Federal de Julgamentos, então recorrem ao Carf.

O fato é que a Polícia Federal está acusando conselheiros e servidores do Carf (não todos, obviamente) de terem manipulado o trâmite e o julgamento de recursos para beneficiar alguns empresários e que estes crimes contra o dinheiro público somam a bagatela, já citada, de 19 bilhões de reais.

Grandes empresas brasileiras, inclusive de comunicação, e estrangeiras são acusadas de participar do bilionário esquema de sonegação, que na verdade, é um esquema de corrupção como tantos outros.

Não é curioso que esta Operação Zelotes tenha tão pouca visibilidade na imprensa brasileira e seja tão pouco conhecida da população, mesmo tendo dimensões bem maiores do que os esquemas de corrupção na Petrobras?

Aliás, a mídia, quando trata da “Operação Zelotes” fala mais de sonegação do que de corrupção. Por que será? Sonegação não seria corrupção? Os roubos cometidos no Carf não tem o mesmo significado dos roubos cometidos na Petrobras? Porque o tratamento na mídia é diferenciado? Já pensou nisso?

Estudos e estimativas indicam que, neste ano de 2015, no Brasil, os corruptos roubarão até 100 bilhões de reais dos cofres públicos, enquanto que os sonegadores roubarão pelo menos 500 bilhões de reais.

Existem corruptos na sua cidade? Você os conhece? Já se indignou contra eles? E sonegadores, existem? Você conhece alguém que sonega? Já se indignou contra algum sonegador?

Em tempo: Se você é um indignado, não caia no erro de generalizar. Nem todo político é corrupto e nem todo empresário é sonegador. Proteste à vontade porque você mora em um país livre.

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