O chapéu de Augusto

Por Ramalho Leite

Ao entrar na Galeria Augusto dos Anjos deparei-me com uma faixa já desgastada que cobra: “Onde está Augusto dos Anjos?” A referência transporta os transeuntes a um busto muito mal esculpido do Poeta do EU, que, misteriosamente, desapareceu, restando apenas o pedestal. Na Academia Paraibana de Letras, porém, a gestão do presidente Damião Ramos incorporou ao Jardim de Academus uma estátua em corpo inteiro do nosso poeta maior. A estátua, sem chapéu, motivou reclamação do poeta Luiz Nunes, usuário permanente do chapéu-panamá. Para satisfazer sua vontade, coloquei um chapéu na cabeça de bronze, fotografei e enviei ao imortal de Água Branca. “Agora é outra coisa” respondeu, lembrando a conclusão do nosso barbeiro comum, o Flávio, recentemente desaparecido, ao dar por terminada a tarefa na sua cabeleira já escassa.

O chapéu que faltou na cabeça coroada de Augusto foi entronizado mundialmente, após proteger do sol o presidente Theodore Roosevelt, quando o americano foi fiscalizar a construção do Canal de Panamá. O chapéu de palha toquilla ganhou o nome do Panamá, mas é originário do Equador, onde se chama El Fino. Nasceu como El Sombrero e até hoje não perdeu o charme e a elegância, principalmente, depois que eu comecei a usá-lo para me proteger do câncer de pele( risos). Até chegar à minha humilde cabeça, o chapéu-panamá passou por Winston Churchill, Harry Truman, Clarck Gable, Huphren Bogart, Michael Jackson e outros astros de menor brilho. Entre nós, foi companheiro inseparável de Getúlio Vargas e Tom Jobim, mas foi Santos Dumont seu usuário pioneiro.

É no Equador, pelo caminho virtual, mas usando o decadente correio do Brasil, que mando buscar os modelos de chapéus que já presenteei a alguns usuários necessários, pela careca exigente de proteção solar. Ao prefeito Luciano Agra, ofereci um exemplar de qualidade, para que substituísse o que comprara alí na Rua da República. O genuíno panamá o acompanhou até a morte e se tornou símbolo de sua curta presença na vida pública. O jornalista Carlos Aranha, usuário permanente de chapéus, também ganhou o seu. Observo, porém, que prefere usar os mais surrados, talvez por combinar melhor com seu estilo despojado de poeta e boêmio. Mais recentemente, a confraria do toquilla conquistou mais um adepto: o conselheiro Artur Cunha Lima, fotografado outro dia com o Governador Ricardo Coutinho, tendo o panamá por testemunha.

Comecei na referência ao chapéu de Augusto dos Anjos e termino lembrando sugestão do cronista mor desta cidade das acácias, o imortal Gonzaga Rodrigues, que propõe ao prefeito Luciano Cartaxo deslocar a estátua do poeta, sufocado entre camelôs, na Lagoa, para ambiente mais condigno, como, por exemplo, a própria Galeria Augusto dos Anjos. É de tirar o chapéu!

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