Grandes motes e glosas com direito a Pinto do Monteiro e muito mais…

Pinto do Monteiro glosando o mote:

Se já gozei no passado,
Posso sofrer no presente.

Para falar sobre a farra
Não é bom que eu me afoite,
Entrava à boca da noite,
Saía ao quebrar da barra.
Fui mais do que almanjarra,
Pra moer cana no dente,
Quando eu bebia aguardente,
Cerveja, vinho e quinado.
Se já gozei no passado,
Posso sofrer no presente.

* * *

Pinto do Monteiro glosando o mote:

Na grandeza do Amazonas
Encontrei meu grande amor.

O pobre do seringueiro
Tem o índio por vigia,
O macaco por espia,
E o tigre por companheiro!
A bem de ganhar dinheiro,
Trabalha seja onde for.
Mas eu fui foi ver a flor
Que habita àquelas zonas!
Na grandeza do Amazonas,
Encontrei meu grande amor.

* * *

João Paraibano glosando o mote:

Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.

No vagão da saudade eu tenho ido
Ver a casa onde antes nasci nela
Uma lata de flores na janela
A parede de taipa, o chão varrido
Milho mole esperando ser moído
Numa máquina do veio enferrujado
Que apesar da preguiça e do enfado
Mãe botava de pouco e eu moía
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.

Vou pra ver nessa casa que foi minha
Minha rede já pença duma banda
O batente na porta da varanda
Um bueiro de lata na cozinha
Mãe prendendo os dois pés duma galinha
Num cordão de algodão descaroçado
Um espeto cheirando a milho assado
E um cuscuz fumaçando na bacia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.

Eu não posso esquecer que o rouxinol
Dessa casa também foi habitante
Mãe cortando pedaço de bramante
Pra colocar o remendo no lençol
Pai voltando da roça ao pôr-do-sol
Cochilando com o peso do enfado
Um pé sem chinelo, outro calçado
Uma mão ocupada, outra vazia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.

Lembro a boca redonda da cumbuca
Que mamãe tirou sal pro alimento
A vassoura do rabo dum jumento
Espantando um enxame de mutuca
Um cancão desarmando uma arapuca
Um canário cantando engaiolado
Um cachorro latindo acocorado
Sem cobrar um tostão pra ser vigia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.

Toda noite eu me lembro de lembrar
De um pião enrolado até o meio
Mãe botando carvão num ninho cheio
Pra ninhada da franga não gorar
Uma gata lambendo um alguidá
Com o cabelo da testa penteado
Depois subia pra cima do telhado
Na certeza que o gato também ia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.

* * *

João Furiba glosando o mote:

Com três meses depois da eleição
Ninguém lembra o que disse ao eleitor.

Eu recordo que um certo candidato
Lá em casa chegou de cara lisa,
Prometeu-me uma calça, uma camisa,
Um chapéu, a gravata e um sapato,
Na parede pregou o seu retrato,
E eu lhe disse: meu voto é do senhor,
Prometeu um pirão de corredor,
Não deu nem a farinha do pirão,
Com três meses depois da eleição
Ninguém lembra o que disse ao eleitor.

* * *

Luiz Amorim glosando o mote:

Está provado que reza
Não dá saúde a ninguém.

Ventre caído e olhado
Nunca mais mando rezar
Deixei de acreditar
Que reza deixa curado
Que se curasse operado
Tancredo estaria bem
Quanto mais reza, mais vem
Um mal terrível que pesa
Está provado que reza
Não dá saúde a ninguém.

Tinha por ele rezando
Os cento e trinta milhões
E suas infecções
Todo dia piorando
Terminou se ultimando
Me fazendo crer também
Que rezar males de alguém
Fica pra pessoa lesa
Está provado que reza
Não dá saúde a ninguém.

* * *

José Honório glosando o mote:

É o xerém triturado da saudade
No angu requentado da ilusão.

É o desejo querendo ser real
É a vontade buscando ser de vera
É verão cortejando a primavera
É um amor que só dura um carnaval
É sereno, é chuvisco, é temporal
É namoro curtido no portão
É olhar que penetra o coração
E se esconde por trás da amizade
É o xerém triturado da saudade
No angu requentado da ilusão.

É a voz do querer dizendo vem
É o receio do nada e que diz:-para!
Esperança que arma uma coivara
Faz o fogo arder sob o moquém
É a viagem do sonho que não tem
Compromisso nenhum com a razão
É a força indomável da paixão
Que se instala com toda liberdade
É o xerém triturado da saudade
No angu requentado da ilusão.

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